Diante da
complexa exposição toca a luz da racionalização sobre a morte, desenvolvida no
contexto da aurora cartesiana, que contempla que tudo pode ser previsto,
quantificado e compreendido, mas que é recepcionada por muitos como um
disparato utópico. Nesta mesma racionalização cartesiana, se tipifica que o
tempo é linear e a morte não é um antagonismo consequente da vida, mas sim do
nascimento. Numa plausível realidade os fenômenos do nascimento e da morte se
contemplariam simplesmente como marcos referenciais no ciclo vital de um ser.
Supostamente,
as racionalizações contemporâneas do universo de Tánatos se fundamentam em
noções formuladas, observadas como imperfeitas pela Ciência da Física
contemporânea, como a existência de um elemento que preenche um espaço e que
dura por um período temporal. O que é que se extingue? Dentro de observações
científicas experimentais, o “estado terminal” se desenvolve em todo momento e
no que tange todo o suposto ciclo vital, não se configurando em um simples fenômeno
que se finda, como se poderia racionalizar.
No plano
celular, distante de se configurar como uma catástrofe, o fim do ciclo celular
é uma realidade que integra um complexo processo de aprendizagem e de
auto-organização identificado como apoptose. Concebida, já no início do
processo embrionário, a apoptose se tipifica como uma espécie de “suicídio
celular”, que abrange, desde a desagregação dos dedos dos pés e mãos, até a
extinção em grande escala de uma superpopulação de células de defesa, que se encontram
sem função, após combater e destruir um agente patológico.
Este
condicionamento de “se suicidar”, distante de ser um acontecimento raro é uma
regra que possui a dependência e a todo instante da necessidade capaz de buscar
no ambiente interno do organismo referenciais energéticos e informativos que a
impossibilitem. Esse natural condicionamento dinâmico de promover uma espécie
de comunicação temporária com o mundo interior, no contexto de um diálogo
vitalício entre populações celulares é dentro de uma plausibilidade científica
o mecanismo primordial por prover a vida e afastar, instante a instante, o fato
gerador do “suicídio”.
Diante deste
processo, o fenômeno apoptose é o responsável pela incessante manutenção
renovadora do complexo corpo humano. Que se tipifica em uma constante sucessão
de um estado que pereceu para um estado renovado perfeitamente ao original. Um
exemplo deste processo é a mucosa do estômago que constantemente se renova,
sempre dentro de um período de uma semana. A pele inteira sofre este processo
de renovação no período cíclico de um mês. Os ossos sofrem este processo
cíclico de renovação no contexto de noventa dias aproximadamente. O fígado em
aproximadamente em um mês e meio, etc.. Sendo assim, é notório que o corpo
físico do ser humano, com seus incontáveis números de átomos, substitui
espontaneamente aproximadamente 98% desses elementos, todos os anos solar, de
modo que no tanger de cinco anos solar/gregoriano aproximadamente, todos os
átomos do corpo humano se tornam livres a vagarem pelo planeta, enquanto
outros, que vagavam livres, são recepcionados e condicionados por reações
químicas e físicas a estruturarem o nosso corpo físico.
O corpo físico
supostamente “morre” dentro de períodos convencionados de cinco anos
solar/gregoriano. Diante deste fato se questiona: o que é que permanece? Nem os
átomos escapam deste processo terminal. Pois, até eles possuem um tempo de
existência, que varia de elemento químico, para elemento químico. As energias
também sofrem este processo. Porém, não percebemos, porque a vida delas muitas
vezes é de milhares de anos ou porque, nunca consideramos um átomo ou uma
energia como portadora de “vida” apesar
de existirem. Pois, vida para nós, é andar, falar, mover-se,..., é um
condicionamento natural terráqueo.
É fato que o
corpo físico está em incessante processo de recepção e substituição de seus
átomos, com o ambiente que faz parte. Seja pela respiração, ingestão e
eliminações. Dentro deste raciocínio a pele não se comporta como um limite
externo. Neste contexto se reflete sobre em que instante de nossa existência, o
que pertencia ao Universo começou a pertencer ao corpo? Em que instante
vital o que fazia parte do corpo passa a ser do Universo? A grande questão é: o
que pertence ao Universo e o que pertence ao corpo vital? Diante desta
exposição ao nos detemos a refletir sobre isto, observamos que tudo que se
manifesta não contempla nenhuma individualidade. Sendo assim, é plausível que
toda a criação deslumbrada é impermanente, impessoal e interdependente, ou
seja, é um conjunto de elementos.
Outro fator
complexo para a concepção humana atual diz respeito ao reino de Cronus. Segundo
a ciência contemporânea que chegou a uma plausibilidade que o tempo não tem um
espírito absoluto, da mesma forma como o espaço. É possível, que não exista
algo no que tange um tempo linear. Eis que o tempo está intimamente relacionado
aos sentidos humanos, sendo parte do homem racional, de nossa psique. O homo
sapiens sapiens é o único ser conhecido consciente e com sensibilidade no
planeta Terra que possui alguma percepção do que se contempla como tempo
linear. A partir desta observação, nascimento e morte, para a Ciência da Física
contemporânea são raciocínios construídos inconscientemente pela psique dos
seres da raça de ferro, fundamentado em uma interpretação do tempo no patamar
de absoluto que está contido em um suposto contexto real exterior ao ser
humano. Hipoteticamente, nem esse tempo absoluto, tão pouco essa realidade
exterior existem. Sendo que uma suposta noção de “momentos” que fluem
unidirecionalmente é uma particularidade da psique do homem, que
involuntariamente interpreta a realidade que nos cerca e influencia,
demonstrando-nos o “universo da mente”. Um universo que mente, ou um mundo
ilusório.
Para alguns
filósofos e cientistas a única convicção que é plausível é que o passado
existe. Isto se dá devido o tempo presente ser extremamente passageiro, a ponto
de não ser detectado pela percepção, ocorrendo o mesmo com o que tange o
futuro, mas de forma complexa. Mas, existem seres racionais que se vinculam ao
tempo passado, convivem com os erros e consequentes arrependimentos, magoas e
com momentos que marcaram positivamente, que vivem nesse passado. Perdem a
noção de viver o estado presente, alimentando a certeza de que o tempo presente
é uma espécie de raciocínio que processa a ideia de “futuro do passado”. A
partir desta exposição a Ciência da Psicologia contemporaneamente demonstra que
o estado passado se condiciona eternamente no tempo presente. Sendo que todas
as ideias inter-relacionadas que possuem um denominador emocional comum, o qual
influencia significativamente as atitudes e comportamentos de um indivíduo que
nos acompanham no tempo presente. Nesta perspectiva, passado perde sua
natureza, não sendo mais o passado. Ou seja, viver no passado, do passado e
pelo passado é um fator condicionante de involução e evolução ao mesmo tempo e
espaço. Se desvincular do passado é um grande passo para se contemplar qualquer
novo horizonte. No entanto desvincular é diferente de esquecê-lo, pois, é ele
que possui as gêneses das experiências, que servirão para dar segurança ao
desbravamento de novas circunstâncias.
Partindo da
noção leiga que recepcionamos a ideia de “presente”, concluímos o que se
concebe que é “o passado”. A partir desse comum fato, a única concepção
plausível que se concretiza é um eterno presente. Já a vida deveria ser os
fatos que nos permeiam enquanto recordamos do passado ou articulamos
planejamentos para o tempo futuro, ou seja, na concepção do budismo tibetano: o
presente é real.
Na concepção
estruturada de alguns físicos, no contemporâneo deslumbre de um tempo
não-linear, os episódios cotidianos da vida nos precedem e não se produz nada
inovador. Eis, todas as coisas já existem, sendo assim, elas apenas sofrem um
processo de redescobrimento. A filosofia platônica considera que aprender é só
uma circunstância relacionada a recordar. Não muito diferente, o pensamento
hegeliano observou a perspectiva onde nada que exista é verdadeiramente novo. Neste
contexto, não existe o passado nem o futuro. Ou seja, é possível admitir que o
estado presente sempre carregasse involuntariamente em sua estrutura todo o
estado passado. Eis, que isto é possível, porque é o produto final dele, e
introduz no mesmo momento toda a potencialidade para o futuro. O brilho das
estrelas e a própria existência humana, nos transmitem uma lembrança velada do
Universo. Os seres da quinta raça são fragmentos residuais de estrelas que já
desapareceram. Cuja vagante luz, permite visualizar a resenha de suas passadas
existências. É possível desenvolver uma noção, a qual a Natureza contempla uma
intima, única e complexa forma de “memória”. No deslumbre poético, é
concebível expressar que o ser humano é um ensaio das estrelas de se verem
refletidas.
Imaginando a
possibilidade, em um contexto onde conseguíssemos apagar a nossa memória íntima
e as conjecturas. Fazendo desaparecer o passado e o futuro, só nos restaria um
“agora”. Desta forma perceberíamos que o Universo está fluindo constantemente,
sofrendo o processo de metamorfose evolutiva a cada infinitesimal do estado
“agora” e descartando o seu vestígio no que tange a “memória” exclusiva da
Natureza. Diante disto, somos conduzidos a desenvolver uma resolução que o
Universo é um processo no qual estamos inter-relacionados, o qual nos conduz;
um conjunto de ações criativo que não se findou. É possível que não “ocorreu”
uma criação do Universo e da Era dos Homens; existe, uma criação do Universo e
do ser humano! O homo sapiens sapiens é
uma semente, uma variável complexa. O que se pode contemplar da noção de
passado e futuro, a partir disso tudo? Na perspectiva, da Física esta resposta
poderia se enquadrar na racionalização que a “distinção entre passado, presente
e futuro é apenas uma ilusão, embora persistente”.
Existem também
sustentações com razões e argumentos que a teoria dos campos unificados para
tornar claro o mundo quântico, seja ele o futuro como também o passado. Os
quais estão indefinidos. Do mesmo modo, que o observador influi no contexto do
caminho e da conduta natural das sub-partículas, nos ensaios científicos
desenvolvidos nos aceleradores, no condicionamento que a psique do ser
duplamente sábio, analisa o seu passado na contemplação da gênese de tudo, a
consciência influi e escolhe uma entre as infinitas possibilidades de
justificativas.
Que o
pensamento é primordial no Universo. Isto já era corrente no pensamento de
diversos povos, no que tange milênios de anos passados. A milenar filosofia indiana desenvolveu o
raciocínio, que a matéria tem origem da Mente Divina e é notória à psique
humana, sendo que a mente do homem quanto a matéria são ocorrências de curta
duração da Psique Divina e possui existência superficialmente formal: “na
realidade só a Mente Cósmica existe”.
Para a
astrofísica, o material basilar do Cosmo é a matéria-prima da mente. Sendo
assim, a noção de vazio para a escola budista Cittamatra segue a regra da
ciência. Eis uns de seu ensinamento que permitiu criar esta relação: o
“fenômeno observado, e interpretado como externo a nós mesmos, é composto da
mesma substância da mente. Negar a existência do objeto seria negar a
existência da mente”.
Neste
contexto, onde tudo que existe, não existe, está “morto”. Então o que é a
morte? Na era remota das civilizações, se condicionava o marco do estado de
morte no que tangia o fim do processo de parada respiratória, este contexto é
descrito no livro sagrado Gênesis. No entanto, no que tange a contemporaneidade
esta condição por si só, não é mais plausível. Eis, que observou devido aos
avanços da Ciência, que se a duração de parada respiratória for de curto
momento o ser terá uma possibilidade de ser reanimado. Da mesma forma, é da
consciência de muitos que mesmo a parada cardíaca não é mais um parâmetro
delimitador.
No século XX
depois de Cristo, o momento desencadeador da morte condicionou-se a ser
relacionada com a falência da consciência e da atividade do sistema nervoso
central. Ou seja, a cessação do funcionamento tronco encefálico, a qual se
desencadeia no efêmero contexto de minutos de ausência de glicose ou oxigênio.
Mas ocorrem situações em que pessoas conseguem retornar à vida com seis meses,
já outras que resistem por períodos longos de aproximadamente quatro décadas
ligadas a aparelhos. Mesmo com os avanços científicos, é fato, que o ser humano
não é capaz de afirmar com convicção, no que tange todos os casos terminais,
quando um ser já não possui alguma condição de retomar a consciência. E neste
contexto que é percebido, que certas variáveis, não possuem uma contemplação
existencial do conhecimento humano.
Quando se
coloca em prática, as emergentes noções de tempo, espaço e matéria ocorrem
questionamentos de uma nova formulação de racionalização sobre a morte,
possivelmente se construirá uma argumentação lógica em defesa da manutenção da
morte física. Ou seja, supostamente é no espaço-tempo que transcende a
racionalização de finalidade. Porém, não irá ser este motivo, que a milenar
contemplação de fatos dos homens irá se forjar com facilidade a essa análise
teorizada. Bilhões de seres vivos já se extinguiram no planeta. Ou seja,
morreram! É um acontecimento natural da vida.
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