Com
uma linguagem carregada de metáforas, as manifestações do pensamento gravadas neste
propileus, expressam mais que simples palavras atormentadoras. Reportam-se ao
lado sombrio que o ser humano desperta, devido ao fato de muitos não aceitarem
os ensinamentos carregados pelos sentimentos não recepcionados e interpretados no
que tange sua universalidade, mas apenas o seu lado literal e condicionado.
O
sentimento é um fenômeno natural, humanamente necessário, essencialmente puro.
Oculta uma face indeterminada, maléfica e daninha, quando não controlado e
compreendido no que tange a decepção ocasionada pela impossibilidade do fato de
não possuir aquilo que se objetiva ou que não satisfaça as íntimas vontades a
contento.
A
partir dos sentimentos se ramifica a dor em suas diversas expressões. Um
sentimento diferente do literalmente expressado. Pois, a dor sentimental é complexamente
grande ou idêntico a dor causada em consequência da morte física. A dor
sentimental acarreta a morte psicológica.
O
sentimento é um fenômeno mutante e metamórfico. Que quanto deleitado no auge do
descontrole, se transforma em raiva, que vira ódio, que provoca condições para
a morte física e psicológica. Pois, o sentimento é diferente da razão, que se
diferencia de intenção, e que não é precipitação. O sentimento é um primórdio fenômeno
natural, reativo, consequente. É instinto natural de proteção da sobrevivência
da espécie e consequentemente, do meio que a mantém.
O
sentimento é passivo, cego, mudo, surdo e ativamente ignorante. Por este
motivo, o sentimento proporcionou que muitas pessoas vivessem e renascessem.
Mas em virtude do seu lado negro, muitos seres morreram, guerras foram
travadas, impérios caíram, fortunas se consumiram, pessoas se tornaram amargas.
Essa manifestação sentimental tem o poder de corromper, aparece onde não se
imagina, e desaparece quando não se espera.
O
sentimento humanizado é doutrinariamente celestial, por que é através dele que
se compreende a vida. Mas é um atalho extremamente rápido para as sombras.
Muitos se perderam pelos caminhos norteados pelos sentimentos, e nunca mais se
acharam. O sentimento é como a bebida alcoólica, se deve beber com moderação.
Pois, caso contrário, só o destino sabe onde se vai parar.
Não
se brinca, testa ou se abusa do sentimento alheio. Pois um ser emocionalmente
afetado é um ser renegado, que muitas vezes liberta seu lado sombrio,
involuntariamente e inconscientemente, para provar para todos o que não
conseguiu demonstrar. Mas existem pessoas que conscientemente expressam seus
sentimentos, sem perceber que estão afetados por ele.
Mas
os sentimentos não devem ser temidos, mas exteriorizados com responsabilidade,
prudência e sem estar corrompido pela necessidade de se alcançar uma satisfação
mais abrangente e abundante. Pelo menos, assim que deveria ser.
Os
sentimentos foram abordados na presente escritura, porque o contexto do
Librorum Prohibitorum se forja na ação humana como um inconstante vetor. Por este a sua face oculta pode assustá-lo,
pois, vai demonstrar o lado negro presente nele. Sem fazer referência a ele,
mas sempre relacionado a eles. Pois, irá demonstrar atos daqueles que foram
corrompidos por eles, através de ações realizadas por pessoas que expressaram
demasiadamente, mas que experimentaram o lado negro e se perderam no caminho da
vida, e comprometeram outros por este motivo.
Serão
as observações e comentários imperfeitos apavorantes em um primeiro momento
para quem irá ler. Mas, alguém tinha que abordar esta realidade. Pois, muitos escrevem
e falam sobre sentimentos, até descrevem suas imperfeições. Mas poucos são os
que mostram a realidade nua do “mal” causada por eles.
Abordar os sentimentos como uma consideração
fundamental no contexto racional do ser, é explorar as suas origens no próprio
interior do ser humano, e não fora dele. Pois, até o dia em que algum
cientista, filósofo ou criatura iluminada prove o contrário, os sentimentos
possuem origem na natureza funcional orgânica do homem, porém, é apenas
denominado por ele, no sentido de identificá-lo no contexto de uma
circunstância convencionada a sobrevivência.
Neste contexto, percebe que os sentimentos não são
valores sociais, isto porque, eles são justamente os alicerces que desenvolvem
as noções de valores. A partir disso se considera dentro de uma plausibilidade,
que as noções do conjunto bem e mal, tempo, morte, vida, verdade, mentira,
satisfação são filhos dos sentimentos.
Pois, se partimos de uma discutível suposição que não
é a morte que motiva o ser humano a sobreviver e evoluir, e sim o medo da dor
que supostamente a morte ou as circunstâncias dela cause. Esta reflexão surge
do fato, que não se tem informação se o estado morte possui dor ou não. Porém,
se a morte orgânica humana é um estágio de falência do corpo orgânico, então
supostamente se conclui que a sensibilidade dos sentidos também cessa. Porém, o
problema é que existem doutrinas místicas que propagam a condição, que a alma
sofre os efeitos da temperatura, da vontade, a última dor, do vicio,..., depois
da morte, ou seja, condiciona o homem com um valor alicerçado na fé, mas que
desenvolve o medo, mesmo em quem não possui fé.
A partir dessa consideração, dá a impressão que os
sentimentos possuem o status de reais, bem diferente do mundo fictício
manipulador relacionado ao tempo, bem, mal, vida e morte. Sendo assim, é
possível desenvolver uma plausibilidade de que o homem, em sua trajetória,
distinguiu involuntariamente bem os sentimentos, e no que tange o processo de
evitar os efeitos de alguns destes, desenvolveu conceitos e valores que
fundamentassem as regras. Pois, ao contrário do que muitos pensam, a morte não
é o problema se analisar bem as suas circunstâncias, como a princípio já foi
demonstrada em um propileus exclusivo a
ela. Mas sim, são os efeitos das sensações que levam até a ela. Imagine no
período pré-histórico, a sensação dolorosa de ser estraçalhado por um predador
como um megantereon (tigre-dente-de-sabre), ou morrer de fome, ou as mínguas
causadas por uma doença,..., ou seja, o ser humano para evitar estes tipos de
dores, insistentemente buscou se aperfeiçoar e continua buscando combater esta
condição desagradável.
Então, se conclui dentro de uma plausibilidade, que é
a sensação de dor, a principal responsável, mas não a única, no processo que
desencadeiam as ações e reações humanas e por efeitos, seus condicionamentos.
Como também, a sensação de satisfação, que com o tempo foi corrompida, pelos
abusos humanos, gerando consequência que se tenta combater até os dias atuais,
já que eles geram dores devido as situações de insatisfação material, de poder
e status do ser duplamente sábio.
Diante deste exposto, para se chegar à gênese de um
problema, se necessita explorar os sentimentos. Ou seja, primeiro, se separa
bem o que é um valor humano do que é um sentimento. E no contexto desses
sentimentos, se necessário separar, o que é um sentimento original de um
sentimento derivado e condicionado. Ou seja, a dor, é uma sensação provocada
por um estimulo dos sentidos, já a vontade também é um estimulo condicionado a
um pedido do corpo, vontade de comer, por exemplo. Porém, é ai que se torna
pertinente a observação, pois, alimentar-se é uma condição fisiológica e não
condicionada, no entanto, abusar de um alimento, é um condicionante que
manipula a vontade. Pois, a satisfação do corpo, se tipifica em fisiológica e
psicológica. Sendo psicológica, já se torna um condicionamento.
O ser humano é uma criatura provida de psique, como
qualquer outro animal. Porém, ele desenvolveu a capacidade de conseguir
distinguir seus sentimentos (emoções e instintos), classificando-as e
caracterizando-os. Pois esta caracterização se condicionou necessária, já que
são os sentimentos que regulam as ações e reações do homem da quinta raça.
Sendo estas submetidas ou ao controle da razão ou sem a possibilidade desta
controlar.
Os
sentimentos sob esta perspectiva correspondem a um fenômeno bioquímico,
volátil, que se manifesta em resposta a um acontecimento, geralmente provocando
a perda de noções fundamentais como: observação analítica, de perigo, de
valoração de ação e reação e principalmente da consciência lógica e analítica.
Diante
desta noção superficial, é notório perceber que é sob os efeitos dos sentimentos,
que o homem recai em erros, muitas vezes irreparáveis, que poderiam ser evitado
se ocorresse um breve período de reflexão. Porém, isto não quer dizer que os
sentimentos são um mal. No entanto eles se tornam um fenômeno não coerente com
o condicionamento esperado pela sociedade, quando se manifestam em pessoas que
não possuem o controle sobre eles, que permitem involuntariamente eles fluírem
sob qualquer situação, condição ou tipo de pressão, sem esboçar sequer uma
tentativa de autocontrole.
Quando
se fala de controle de sentimentos, não se reporta apenas em controlar os
sentimentos denominados como ódio, raiva, vingança, inveja,..., mas também e
principalmente do necessário controle de sentimentos como o amor, paixão,
amizade, confiança,... Ou seja, controle sobre a radicalização dos sentimentos,
seja em que polaridade manifestar-se. Porém, é necessariamente relevante dar
atenção aos sentimentos que fluem de forma agradável e camuflam ou escondem o
perigo. Já que eles cegam, calam, ensurdecem e possuem o poder de decisão sob
as ações do ser influenciado por eles. Isto não quer dizer que deixar os
sentimentos agradáveis fluírem seja um erro ou supostamente um mal. Mas o que é
um erro é assumir estes sentimentos agradáveis de forma irresponsável, radical
e em desarmonia. Ou seja, permitir eles fluírem sem estes serem supervisionado
pela razão e pela observação da sabedoria corrente.
O
mesmo procedimento se processa no sentido de deixar os sentimentos
pré-concebidos como ruins, sem serem supervisionados pelos olhares do processo
lógico e sábio de análise. Pois, tantos os sentimentos agradáveis quanto os
sentimentos ruins, possuem uma relação em comum. Que se reverte ao
acontecimento único do erro fatal, do erro irreparável, do erro que coloca em
risco ou proporciona o fim de um plano, projeto de vida, segredos e liberdade.
Diante
disso, se percebe o quanto o entendimento dos sentimentos é importante para se
atingir o sucesso de um projeto, ou para manter o sigilo absoluto de um
segredo. É neste contexto que o controle dos sentimentos se torna essencial
para qualquer filho da sociedade, independente de condicionamento filosófico.
Não
existe uma fórmula ou técnica única para o controle dos sentimentos, pois, cada
ser possui sua melhor forma para lidar com seus sentimentos. Isto ocorre
porque, estes sentimentos estão sujeitados a força de vontade e ao livre
arbítrio de trocar uma “missão” por um momento de desfrute ou de desforra. É
nesse momento que um segundo ou menos, se equivale a uma vida toda. Então quando
os sentimentos foram abordados como elemento fundamental da Ordem, eles não
foram referidos no sentido de uma visão poética. Mas no contexto da perspectiva
do consciente controle dos sentimentos. Pois, estes são os elementos que mais
comprometem a Rede quando ficam fora de controle e que mais consequência trazem
a quem não os controla.
É
sob esta luz que o Guardião da Ordem deve ficar atento, pois, não são os
sentimentos alheios que irão lhe derrubar, mas são os seus próprios sentimentos
que poderão lhe trair. A atenção a isso é fundamental e constante. Pois, os
sentimentos são sorrateiros, e quando se dá conta, já se esta os vivenciando
num estágio que já pode estar fora de controle ou que já comprometeu a
“missão”. O sentimento em seu início não é auto-percebível, mas é notoriamente
percebido por outrem.
O
sentimento é bom e ruim ao mesmo tempo, possui duas caras, influencia e é
influenciado, é começo, meio e fim, é sonho e pesadelo, é o complexo que gera o
nexo casual, é provedor da rede e o transmutador da mesma. Não se observa ele
só. Entende-lo é correr o risco de matá-los, não entendê-los é caminhar para a
morte diária. O sentimento é para o leigo uma bobagem que deve ser levado
extremamente a sério. Porém, não se deve confundi-lo com o sentimento poético,
mesmo os utilizando para reflexão no que tange a ampliar o processo de
considerações.
Buscar
a explicação deles a partir da lógica íntima, e não pela consciência alheia,
porém, refletindo sobre ela. Mas a principal noção que se deve ter sobre os
sentimentos é que dá mesma forma que ele dá, ele tira. Mas sempre dentro de uma
suposta lógica. Nunca fora dela. Entender isto é compreender seu funcionamento.
Mas isto não se concebe da noite para o dia. Vigiar os sentimentos é proteger a
própria vida e a Ordem.
Porém,
a lógica que se reverte o pensamento, não é a lógica filosófica científica. É a
coerência de ideias, dentro de padrões dinâmicos complexos, descontextualizados
com as influências pré-condicionadas. É difícil conceber isto como lógica, mas
como se encontram respostas plausíveis, num contexto de variáveis
transcendentes, mutáveis, dinâmicas, complexas e sem nexo estrutural?
Não
importa a forma como se chega a esta resposta, se possível de descrevê-la ou
não. Pois, o que importa é compreender os sentimentos intimamente e expressá-los
dentro de uma harmonia. Descrevê-los é coisa de poeta. Ordená-los, é
manipulá-los. Não senti-los, pode ser o primeiro sinal que se está morrendo
como carne e energia racional.
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