A
distorção doutrinaria que corrompeu a ideia de fé que confundiu sua
contemplação de forma natural ao ser humano, oculta sua percepção dentro da
realidade compreendida pelo conjunto dos sentidos humanos funcionando de forma
realmente integrada. Ou seja, um sentido complementando a limitação que o outro
possui.
O
princípio da fé então transcende o “simples acreditar e aceitar” de forma
psicológica e passa a um status natural de percepção e compreensão daquilo que
o condicionamento humano não permitia a aceitar sem um filtro. Mesmo o corpo
percebendo. Ou seja, aquelas “sensações, premonições, iluminações”,..., que
recepcionamos e não entendemos, mas aceitamos intimamente, mesmo não repassando
esta experiência para evitarmos sermos rotulados de “loucos” ou “estranhos”,
nada mais é que um instinto natural de sobrevivência interligado ao sistema da
rede da vida, onde toda “ação gera uma reação”. Pois, de certa forma, em
virtude do frenético movimento de partículas e energias, tudo se torna
pré-determinado a acontecer, mesmo que de forma complexa e ilógica a
racionalidade. Mas que, como resultado, acaba se desencadeando no que foi
alertado.
Mas
o que tem a ver com a fé? A fé é a denominação que a doutrina se apropriou para
batizar o instinto. Pois, sabiamente os homens que teceram as doutrinas
místicas, perceberam esta percepção natural dos humanos e as mistificaram ao
invés de ensinarmos a aperfeiçoar esta contemplação da realidade de forma mais
abrangente.
Os
homens falam de fé no sentido de fundamentar a existência de um ser
sobrenatural poderoso. Porém, será que os que pregam a racionalidade de
acreditar em um ser divino, realmente conhecem o que é a fé essencial, como
também acreditam de forma consciente e não uma cega doutrinaria no ser
sobrenatural? Eis, que para alguém acreditar deve também ter motivo para
duvidar. É o princípio do livre-arbítrio. O problema é que só existem
fundamentos numa ideia de fé que se contradiz com a própria doutrina. E não na
racionalidade de fé instinto fundada em um contexto de gênese que permite uma
reflexão universal livre e não direcionada.
É
complexo entender o que supostamente não consegue se explicar quando se esta
sob o efeito do condicionamento de forma direta ou indireta. E este
condicionamento direto e indireto é tão daninho que mesmo ele expressando para
se ter “fé”, ele o bloqueia. Já que, esta insistência faz a pessoa gerar
conflitos internos que se refletem na incapacidade de aceitar os avisos dos
instintos quando eles se expressam.
Ou
seja, parece que quanto mais o ser humano deixa de “perceber” estes instintos,
mais fracos eles vão se expressando. E quando se tenta recuperar, a pessoa
percebe o quanto esta artificializada. É esta a “fé” proposta para se atingir o
ser superior? Uma “fé” que anula a ligação natural com a própria rede da vida?
O
homem que fala de Deus é o mesmo que cria mecanismos para bloquear sua natural
ligação. Esta é uma frase metafórica se analisada com uma visão cientifica mas
literal se analisado sob a visão mística. Pois, independente de visão, a
conclusão é a mesma, mas explicada dentro da racionalidade de cada área. É uma
questão a se refletir, já que a resposta para ela se tornará o primeiro passo
para adentrar em novos universos, até então proibidos ou classificados como
utópicos. E a visita a estes novos universos (realidades), se tornará um novo
vetor que será o norte para se compreender energias e conceitos até então
deslumbrados apenas sob o ponto de vista da visão, audição, tato, olfato e
paladar, de forma não integrada. Ou seja, sob uma perspectiva plana e linear.
Nunca fora disso.
Independente
se mística ou científica esta nova perspectiva produzirá uma consciência ampla,
que elevará a capacidade intelectual. Sem comprometer as sensações e sentidos.
Pois, estas agora se integram de forma harmônica e não mais desarmônicas. Ou
seja, a pessoa não negará o amor, a paixão, o prazer. Mas sim, aprenderá a
senti-los de forma em que a satisfação não estará no caos, mas na harmonia do
meio. Já que, ele carrega esta sensação em forma de energias dispersadas.
Mas
isto não é a “fé” em si, é apenas uma propagação do ato de compreender sem
precisar acreditar. Pois, ela se propaga e se percebe com a interligação de
todos os sentidos, e não por meio de um único. É por este motivo, talvez que
muitos acham que para ter fé, é acreditar sem precisar ver ou existir provas.
De certa forma é lógico este pensamento, desde que relacionado a idéia que para
expressar a fé, é necessário senti-la e percebê-la fluindo de forma real. Ou
seja, não se vê de forma literal. Se percebe de forma instintiva.
Sou
um homem da ciência, que carrega uma visão não conservadora. Por este motivo
observei e refleti sobre a fundamentação ateia no contexto de minar a ideia de
ser sobrenatural todo poderoso da realidade humana. Percebi, que os que
propagaram os fundamentos contra o universo místico, foram as próprias
doutrinas de forma indireta. Pois a repressão e a perseguição aos não fies
geraram um descontentamento que inicialmente afrontava a doutrina e não a ideia
de “deus”. Porém, no calor dessa batalha contra a tirania das doutrinas, é
gerado os frutos que vieram atender aos interesses daqueles que eram contra os
seres divino, os quais foram muito bem aproveitados a ponto de serem usados até
pela própria doutrina religiosa contra outra! Ou seja, como é possível explicar
que uma ideologia cristã coloque em duvida a credibilidade de fé e em “Deus”, propagando
que a outra esta errada? Ou pior, apoiando o Estado laico que carrega
justamente a presença da “fé” através de simbologias existentes em hinos,
denominações de lugares ou outros símbolos que por um instante carregam o ser
até um universo que lhe faz bem! Só como consideração, me refiro a realidade
estatal contemporânea ocidental. Mais especificamente o Estado Latino
Americano. Pois como já foi citado, existiu tempo onde a doutrina religiosa e o
Estado eram uno e agiam de forma contraditória ao que pregavam. Bem diferente
da realidade atual, onde a simbologia que representa a “fé” presente na cultura
de um povo, se dispõe em lato sensu.
A
essência islâmica acredita que o conhecimento “ciência”, coloca o homem mais
próximo ao divino. E realmente, já que foi através da ciência que tive a
oportunidade de rejeitar a fé, encontrando subsídios na filosofia. O problema é
que esta mesma ciência e filosofia que me mostraram um lado superficial de
considerações, me possibilitaram a racionalizar o seguinte pensamento: não
existe uma verdade absoluta alcançada pelo homem. O que hoje é provável, amanhã
pode não ser. O que existem são teorias. Diante disso neste momento concluo
parcialmente que as provas que “afrontam” a fé são o caminho para chegar até a
ela. Já que, considerando que o homem esta sendo testado no universo místico e
que cada ser tem uma missão, então o ato de acreditar sem ter fundamentos
lógicos e contra a lógica é um sinal de fé. É um exercício interessante ao ser
humano, pois ensina a racionalizar, a sair dos padrões que lhe condicionam. A
fé é o caminho para a liberdade. Sendo que é pelos enganos que se aprende, e
pela imperfeição que se atinge o começo da perfeição.
O
conhecimento geral leva o homem até “Deus”, lhe mostra a essência, permitindo-o
que ele não se preocupe mais em ter fé doutrinaria, mas a certeza de que irá
achar o que procurar. Se o voluntário quiser o conhecimento, o busque onde
poucos desbravam livremente. Não tema os que os outros expressam, apenas
busque. Esta foi a diferença entre os grandes inventores que revolucionaram o
seu tempo dos portadores de “conhecimento” que foram apagados com o tempo. As
respostas de quem revolucionou a sua realidade e o mundo, tiveram gênese no
campo da “utopia” (pois não existiam, não era possível, era absurdo!).
Não é uma simples contextualização entre fé mística e
a ciência, mas sim o raciocínio norteado na idéia de que se “Deus” esta em tudo
e é tudo, então conhecer e buscar por conhecimento é se aprofundar sobre o ser
sobre natural. Pois é este o universo da fé, um lugar a ser desbravado para se
encontrar novas resposta e fazer um monte de perguntas norteadoras. Ninguém
sabe como tudo começou, tão pouco como tudo termina. Diante disso o que sobra é
o mistério a ser investigado preenchido pelos elementos do universo místico,
que quando questionado, trazem a tona uma nova resposta e diversos novos
caminhos
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