terça-feira, 24 de dezembro de 2013

ACREDITAR EM QUE?


A distorção doutrinaria que corrompeu a ideia de fé que confundiu sua contemplação de forma natural ao ser humano, oculta sua percepção dentro da realidade compreendida pelo conjunto dos sentidos humanos funcionando de forma realmente integrada. Ou seja, um sentido complementando a limitação que o outro possui.
O princípio da fé então transcende o “simples acreditar e aceitar” de forma psicológica e passa a um status natural de percepção e compreensão daquilo que o condicionamento humano não permitia a aceitar sem um filtro. Mesmo o corpo percebendo. Ou seja, aquelas “sensações, premonições, iluminações”,..., que recepcionamos e não entendemos, mas aceitamos intimamente, mesmo não repassando esta experiência para evitarmos sermos rotulados de “loucos” ou “estranhos”, nada mais é que um instinto natural de sobrevivência interligado ao sistema da rede da vida, onde toda “ação gera uma reação”. Pois, de certa forma, em virtude do frenético movimento de partículas e energias, tudo se torna pré-determinado a acontecer, mesmo que de forma complexa e ilógica a racionalidade. Mas que, como resultado, acaba se desencadeando no que foi alertado.
Mas o que tem a ver com a fé? A fé é a denominação que a doutrina se apropriou para batizar o instinto. Pois, sabiamente os homens que teceram as doutrinas místicas, perceberam esta percepção natural dos humanos e as mistificaram ao invés de ensinarmos a aperfeiçoar esta contemplação da realidade de forma mais abrangente.
Os homens falam de fé no sentido de fundamentar a existência de um ser sobrenatural poderoso. Porém, será que os que pregam a racionalidade de acreditar em um ser divino, realmente conhecem o que é a fé essencial, como também acreditam de forma consciente e não uma cega doutrinaria no ser sobrenatural? Eis, que para alguém acreditar deve também ter motivo para duvidar. É o princípio do livre-arbítrio. O problema é que só existem fundamentos numa ideia de fé que se contradiz com a própria doutrina. E não na racionalidade de fé instinto fundada em um contexto de gênese que permite uma reflexão universal livre e não direcionada.
É complexo entender o que supostamente não consegue se explicar quando se esta sob o efeito do condicionamento de forma direta ou indireta. E este condicionamento direto e indireto é tão daninho que mesmo ele expressando para se ter “fé”, ele o bloqueia. Já que, esta insistência faz a pessoa gerar conflitos internos que se refletem na incapacidade de aceitar os avisos dos instintos quando eles se expressam.
Ou seja, parece que quanto mais o ser humano deixa de “perceber” estes instintos, mais fracos eles vão se expressando. E quando se tenta recuperar, a pessoa percebe o quanto esta artificializada. É esta a “fé” proposta para se atingir o ser superior? Uma “fé” que anula a ligação natural com a própria rede da vida?
O homem que fala de Deus é o mesmo que cria mecanismos para bloquear sua natural ligação. Esta é uma frase metafórica se analisada com uma visão cientifica mas literal se analisado sob a visão mística. Pois, independente de visão, a conclusão é a mesma, mas explicada dentro da racionalidade de cada área. É uma questão a se refletir, já que a resposta para ela se tornará o primeiro passo para adentrar em novos universos, até então proibidos ou classificados como utópicos. E a visita a estes novos universos (realidades), se tornará um novo vetor que será o norte para se compreender energias e conceitos até então deslumbrados apenas sob o ponto de vista da visão, audição, tato, olfato e paladar, de forma não integrada. Ou seja, sob uma perspectiva plana e linear. Nunca fora disso.
Independente se mística ou científica esta nova perspectiva produzirá uma consciência ampla, que elevará a capacidade intelectual. Sem comprometer as sensações e sentidos. Pois, estas agora se integram de forma harmônica e não mais desarmônicas. Ou seja, a pessoa não negará o amor, a paixão, o prazer. Mas sim, aprenderá a senti-los de forma em que a satisfação não estará no caos, mas na harmonia do meio. Já que, ele carrega esta sensação em forma de energias dispersadas.
Mas isto não é a “fé” em si, é apenas uma propagação do ato de compreender sem precisar acreditar. Pois, ela se propaga e se percebe com a interligação de todos os sentidos, e não por meio de um único. É por este motivo, talvez que muitos acham que para ter fé, é acreditar sem precisar ver ou existir provas. De certa forma é lógico este pensamento, desde que relacionado a idéia que para expressar a fé, é necessário senti-la e percebê-la fluindo de forma real. Ou seja, não se vê de forma literal. Se percebe de forma instintiva.   
Sou um homem da ciência, que carrega uma visão não conservadora. Por este motivo observei e refleti sobre a fundamentação ateia no contexto de minar a ideia de ser sobrenatural todo poderoso da realidade humana. Percebi, que os que propagaram os fundamentos contra o universo místico, foram as próprias doutrinas de forma indireta. Pois a repressão e a perseguição aos não fies geraram um descontentamento que inicialmente afrontava a doutrina e não a ideia de “deus”. Porém, no calor dessa batalha contra a tirania das doutrinas, é gerado os frutos que vieram atender aos interesses daqueles que eram contra os seres divino, os quais foram muito bem aproveitados a ponto de serem usados até pela própria doutrina religiosa contra outra! Ou seja, como é possível explicar que uma ideologia cristã coloque em duvida a credibilidade de fé e em “Deus”, propagando que a outra esta errada? Ou pior, apoiando o Estado laico que carrega justamente a presença da “fé” através de simbologias existentes em hinos, denominações de lugares ou outros símbolos que por um instante carregam o ser até um universo que lhe faz bem! Só como consideração, me refiro a realidade estatal contemporânea ocidental. Mais especificamente o Estado Latino Americano. Pois como já foi citado, existiu tempo onde a doutrina religiosa e o Estado eram uno e agiam de forma contraditória ao que pregavam. Bem diferente da realidade atual, onde a simbologia que representa a “fé” presente na cultura de um povo, se dispõe em lato sensu.
A essência islâmica acredita que o conhecimento “ciência”, coloca o homem mais próximo ao divino. E realmente, já que foi através da ciência que tive a oportunidade de rejeitar a fé, encontrando subsídios na filosofia. O problema é que esta mesma ciência e filosofia que me mostraram um lado superficial de considerações, me possibilitaram a racionalizar o seguinte pensamento: não existe uma verdade absoluta alcançada pelo homem. O que hoje é provável, amanhã pode não ser. O que existem são teorias. Diante disso neste momento concluo parcialmente que as provas que “afrontam” a fé são o caminho para chegar até a ela. Já que, considerando que o homem esta sendo testado no universo místico e que cada ser tem uma missão, então o ato de acreditar sem ter fundamentos lógicos e contra a lógica é um sinal de fé. É um exercício interessante ao ser humano, pois ensina a racionalizar, a sair dos padrões que lhe condicionam. A fé é o caminho para a liberdade. Sendo que é pelos enganos que se aprende, e pela imperfeição que se atinge o começo da perfeição.
O conhecimento geral leva o homem até “Deus”, lhe mostra a essência, permitindo-o que ele não se preocupe mais em ter fé doutrinaria, mas a certeza de que irá achar o que procurar. Se o voluntário quiser o conhecimento, o busque onde poucos desbravam livremente. Não tema os que os outros expressam, apenas busque. Esta foi a diferença entre os grandes inventores que revolucionaram o seu tempo dos portadores de “conhecimento” que foram apagados com o tempo. As respostas de quem revolucionou a sua realidade e o mundo, tiveram gênese no campo da “utopia” (pois não existiam, não era possível, era absurdo!).
Não é uma simples contextualização entre fé mística e a ciência, mas sim o raciocínio norteado na idéia de que se “Deus” esta em tudo e é tudo, então conhecer e buscar por conhecimento é se aprofundar sobre o ser sobre natural. Pois é este o universo da fé, um lugar a ser desbravado para se encontrar novas resposta e fazer um monte de perguntas norteadoras. Ninguém sabe como tudo começou, tão pouco como tudo termina. Diante disso o que sobra é o mistério a ser investigado preenchido pelos elementos do universo místico, que quando questionado, trazem a tona uma nova resposta e diversos novos caminhos

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